Uma breve história da publicação da teoria geral de J.M. Keynes

O interesse de Keynes sobre o ciclo dos negócios, datado histori­camente, retrocede a 1913, ano  em que, a propósito da leitura da `fellowship dissertation` de D.H. Robertson[1], Keynes produz o ensaio » How far are the Banker responsible for the alternations of crisis and depressions?”, problema ligado à regulação da taxa de juro que posteriormente discutirá e incluirá no capítulo XIX do `Treatise`.

Desde aquele ensaio que é claramente visível a preocupação principal com os aspectos monetários e financeiros do prob­lema das flutuações económicas, e a insatisfação com a opinião dominante representada por I. Fisher, `the real cash balance approach`[2].  Keynes escreve » Not only is this theory somewhat lacking in plausibility, but it cannot really be substantiated by fact[3]«.

Irei a discutir estes aspectos, primeiro em relação ao Tratado da Moeda e a seguir relacionados com os desenvolvimentos teóricos mas amplos relacionados com a publicação da Teoria Geral.

  1. O Tratado da Moeda

Retomando o problema do ciclo, Keynes propõe-se  escrever o `Treatise`, logo a seguir a publicação do `Tract`. O primeiro esquema data de 14 de Julho de 1924, dando lugar a contactos com Robertson para uma discussão sobre o seu conteúdo. O esquema de Outubro é consideravelmente mais extenso, mantendo porém a estrutura em duas partes: uma teórica e outra prática, num total de 23 capítulos, 14 dos quais dedicados à teoria do padrão ideal e 9 à prática do padrão ideal.  A partir dos vários projec­tos de esquemas sobreviventes desse ano, Keynes começou a desen­volver as suas ideias, distribuindo `papers` entre várias pes­soas, incluindo Robertson, Sraffa. Keynes escreve a Sraffa: » You may be interested to hear that I have now made a good start on my new book, and find that I like my underlying theory quite as well when I begin[4]

Destes problemas teóricos destaca-se a importância atribuída por Keynes ao papel das variações no capital de trabalho no ciclo do crédito, assim como dos empréstimos ao exterior. Neste período o interlocutor privilegiado de Keynes foi sem dúvida D. Robertson, que chegou a enviar-lhe notas críticas de alguns dos capítulos postos em circulação. Salientando a oposição existente ao nível das conclusões, ele escreve » Your final conclusion appears to be the opposite of mine! i.e. at the crisis or the top of the boom your `working capital`is superabundant, and my short lacking`is deficient. But perhaps we mean the same thing, i.e. that the goods are abundant, but the power and will to wait deficient[5]«.

Keynes estava à procura do melhor modo de expor a suas ideias, pelo que novos esquemas foram surgindo, integrando na discussão inclusive o próprio A. Pigou[6]. O interessante é que nesses novos esquemas, as mudanças introduzidas têm a ver princi­palmente com a primeira parte- intitulada agora a teoria do dinheiro crédito~ onde aparece pela primeira vez um capítulo dedicado às equações fundamentais.

Nesse período estavam em gestação a publicação dos livros de A. Pigou, » Industrial Fluctuations» e do próprio D. Robertson, » Banking Policy and the Price Level”. Este último livro era de certo modo fruto da colaboração com Keynes, como alias o próprio Robertson reconhece no capítulo introdutório do seu livro: » I have had so many discussions with Mr Keynes J.M. on the subject-matter of chapters V e VI, and have rewritten them so drastically at his suggestion, that I think neither of us knows how much of the ideas therein contained is his and how much is mine[7]«.

Se dessa estreita colaboração entre Keynes e Robertson não restam dúvidas, também não restam muitos elementos dela, como sugere D. Moggridge » We will never know the full extent of this collaboration, if only because so much was oral and because early draft do not survive[8]«. Apesar do reconhecimento de influência mútua, também não restam dúvidas de que Keynes não estava de acordo com Robertson em questões fundamentais: » I have now read carefully the rest of the book, and also your letter, and remain just unhappy about the whole thing as I was before..This point is the following: I am not able to accept your distinction between hoarding and forced effective short lacking. If there is no increased hoarding, then in my opinion there is not increased short lacking provided through the banking system. An act of inflation unaccompanied by any change in the amount of hoarding represents a mere transference of existing wealth without any necessary effect on the volume of consumtion. You think that additional resources are released through the effect of inflation on consumtion. In arguing this way I think you overlook the fact that there is no reduction of the aggregate purchasing power measured in terms of real resources as a resultat of inflation”[9].

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A confusão, segundo Keynes, derivava da falta de compreensão sobre a relação que existia entre o stock permanente de dinheiro que o público mantém e o fluxo correspondente ao seu rendimento e à despesa corrente, i.e., assumindo Robertson que o público no seu todo tem que reduzir o seu consumo quando tem lugar um processo inflacionário, este não vê o facto que alguns depositantes terão menos recursos no banco enquanto outros de­positantes terão mais. Disto resulta claro uma perfeita ligação teórica à teoria quantitativa e uma apreciação crítica sobre a eficácia da política monetária inflacionária como modo de produ­zir novos investimentos.

Da crítica resultou uma posterior revisão por parte de Robertson do capítulo V que satisfez largamente a opinião de Keynes, como se verifica numa carta datada de 10 de Novem­bro de 1925. A preocupação de Keynes virava-se para a eventual crítica  de Pigou e de Hawtrey.

O `Treatise` começa a ser trabalhado durante o verão de 1925, do qual se encontra a evidência  em novos esquemas em que se revela a constante mudança sobre os capítulos de carácter mais teórico, salientando-se a existência de um capítulo dedicado à especulação, que posteriormente é integrado fundamentalmente no livro V do primeiro volume, mas que é largamente utilizado na análise da política dos bancos sobre a taxa de juro no volume II. Do Verão desse ano até  começos de 1926 o trabalho foi interrompido pelo seu casamento e viagem à Russia, tendo produzido no interregno um estudo sobre padrões monetários anti­gos, que utilizará em parte nos capítulos I, XXX e XXXV[10].

O trabalho retomado na Primavera de 1926 sobreviveu na forma de novos esquemas sobre os seu conteúdo, com algumas notas que sugerem que já teria escrito 55.650 palavras e  a indicação de visitas realizadas a Roy Harrod, material que não sobreviveu. Entre Abril de 1926 e Setembro de 1927 conhecem-se 9 esquemas, com breves apontamentos sobre os seus conteúdos. Sobre o estado de desenvolvimento dos capítulos, a própria obra final é também uma fonte, porquanto é comum encontrar datas correlacionadas com o material tratado. Em Setembro de 1928, o próprio Keynes avalia­va ter escrito 4 quintos do total da obra e revelava a esperança de publicá-la até à Pásqua de 1929, com uma extensão de 500 páginas. Dessa época data também um `paper` intitulado » Is there Inflation in the United States?», sobre a situação nos E.U., em que é notória a utilização do modo de análise que caracteriza o `Treatise`[11].

Trata-se de um artigo eminentemente prático, em que se discute a política monetária a ser seguida, dada a situação de inflação latente ou potencial devido aos empréstimos dos bancos estarem a ocorrer com recurso às suas reservas e ao perigo que se instalaria se através de uma política contraccionista se criasse uma situação de `slump`. A análise, recorrendo à distinção entre circulação industrial e financeira, pretende demonstrar que uma subida da taxa de juro tendo por finalidade aplacar a circulação financeira, provocaria uma depressão.

Do carácter novo da análise produzida por Keynes da testemunho a carta enviada por C. Snyder a Keynes, em que este refere » it is to me a novel and, I confess somewhat alien point of view[12]«. Na sua resposta, Keynes remete a explicação definitiva do seu ponto de vista para a publicação do `Treatise` » which shall be appropriate to the problem of modern monetary system and the credit cycle», admitindo que «my reflections and researches have led me to a certain extent into unfamilar ways of looking at the thing[13].

Keynes chama substancialmente a atenção para outras funções do sistema bancário, denotando uma outra caracterização do significado do dinheiro como meio de pagamento, que leva necessariamente a ver o processo inflacionário em termos difer­entes de Snyder, i.e., para Keynes, um crescimento do crédito bancário utilizado nas transacções provoca inflação quando este cresce mais rapidamente que o crescimento das transacções. Isto implica que o crédito pode crescer mais rapidamente se utilizado para outros fins sem provocar inflação, i.e., como meio de inves­timento das suas poupanças, que serão utilizadas pelos bancos para comprar títulos ou emprestar a terceiros que comprarão títulos sem provocar inflação.

Keynes utiliza a sua teoria da especulação para demon­strar justamente esse processo, embora, como iremos ver, a sua análise da inflação irá a ser revista, porquanto aqui trata exclusivamente a `commodity inflation`, enquanto que na sua teoria, o ciclo é explicado mais em relação com a `profit infla­tion`. Os únicos que pareceram concordar relativamente à situação inflacionária nos E.U. foram  R. Hawtrey e J. Stamp, embora discordando o primeiro sobre os elementos teóricos que fundamen­tam a actividade especulativa. Porém, a discrepância com os americanos e em parte com Hawtrey é sobretudo de natureza induti­va, i.e., sobe as considerações a propósito do comportamento dos diferentes agentes nos mercados e sobre a natureza dos tipos de depósitos a serem considerados como crédito.

Em Outubro de 1928, Keynes elabora um esquema que na sua primeira parte se aproxima bastante do esquema final do volume I, onde alguns capítulos integram aspectos que depois serão relegados para o segundo volume, i.e., para a teoria apli­cada. Sabe-se que, tendo continuado o seu trabalho a fim de publicá-lo no Outono de 1929, tinha em Agosto desse ano uma segunda prova do esquema de conteúdo e uma primeira prova do prefácio, assim como dos primeiros 19 capítulos ( 320 páginas no total), enquanto que o resto estava ainda em rascunho. Nada disto sobreviveu, para além do prefácio e do esquema, embora como monstra D. Moggridge nas suas notas ao volume XIII, em Agosto de 1929 estivessem os capítulos finais redigidos, tendo Keynes procedi­do, a partir daí, as correcções e preparação das versão final..» However, in the course of polishing he became very dissatisfied with what he had done so far and began to attempt more substan­tial revisions[14]«.

Até à publicação definitiva datada de 14 de Setembro de 1930, Keynes trabalhou uma nova apresentação da essência  teórica da sua obra, i.e., das equações fundamentais, deu a versão defi­nitiva à crítica de Robertson, Kahn e do próprio Pigou. Do que resta da correspondência com Robertson e Kahn[15] salta à luz que se discutia ainda bastante sobre os conteúdos dos conceitos macro-económicos, tais como investimento, capital líquido, consu­mo(produtivo, improdutivo), poupança, rendimento, lucros o que revela que se estava ainda numa fase construtiva dos conceitos agregados familiares à macroeconomia.

Do grau de maturação das ideias teóricas de Keynes até a publicação do `Treatise`, e porque não existem cópias completas das provas dos dois volumes, para além do capítulo 21 e 25 que correspondem quase à versão final, corrigidos no estilo, da-nos conta a sua participação no chamado `Committee on Finance and Industry`, convocado pelo `Chancelor of Exchequer`, Philip Sno­wen, em 4 Novembro de 1929[16]. Como comenta D.Moggridge: «Keynes`s effort to shape the work of the Comitee led him in February and March 1930 to spend five sessions elaborating his approach to monetary theory and policy, which reflect his work on the final stages of his `Treatise on Money`[17]«.

A participação de Keynes segue evidentemente as linhas do `Treatise` e corresponde a um tipo de actividade pública a que o próprio Keynes costumava chamar de persuasão, tendo como inter­locutor mais importante no terreno teórico R. Hawtrey.

Concordando Keynes com Hawtrey no sentido geral dos problemas monetários, distancia-se  deste nas considerações tecidas sobre as causas monetárias e não-monetárias que influen­ciam as flutuações do nível dos preços. Keynes Atribui a estas reflexões de Hawtrey uma linhagem que vem de Cournot, Jevons e Edgeworth, com as quais Keynes se declara em desacordo.

O ponto de discórdia reside em que quando os preços relativos estão a mudar não é praticável distinguir entre causas monetárias e não monetárias que afectam essa mudança. Uma causa monetária era, segundo Hawtrey, uma causa que tende a fazer com que todos os preços se movam do mesmo modo, enquanto que uma causa não monetária provoca a mudança nos custos reais. Para Keynes essas definições são incompreensíveis porquanto existem causas que não são nem monetárias nem não monetárias nessa definição. Para ser consistente, segundo Keynes, Hawtrey deveria definir como causa monetária aquela que afecta todos os custos monetários por igual e não todos os preços e, se tivesse feito isso, surgiria necessariamente a ideia de que não existe algo que tende a afectar todos os custos por igual, como sendo uma causa monetária por excelência.

Um segundo aspecto de discordância, que não está directamente ligado ao anterior, é o modo ideal de estabilizar o poder de compra da moeda, se for tomado em termos de meios de consumo ou de custo do esforço humano. Keynes diz » For my own part, I have come to not clear conclusion. I believe that the idea of stabi­lising incomes is a fruitful one and bears a great deal of think­ing about; but I suspect that the choice between the two standards ought not to be the same in all circumstances. I doubt if I should come to the same conclusion in all sets of conditions. For example, if we were to living in a age when real costs were increasing-the opposite to an age of progress- I should be much more inclined to adopt his conclusion than if I were living in a age of progress in which real costs were diminishing[18]«.

As críticas de Keynes ao standard em termos do esforço escolhido por Hawtrey, delimitam-se em duas objecções. Primeiro, o standard não pode ser o mesmo para diferentes países, porquanto os custos reais em cada pais evoluem  de modo diferente. Segundo, como o aumento dos preços reduz a exigência dos rentiers e, portanto, o peso que as dívidas representam no presente, a estabilização em termos de bens aumenta a exigência dos rentier, aumentando a possibilidade da fricção social. Os receptores de salários, argumenta Keynes, quando aumentam a sua eficiência, pretendem benefícios mais na forma de salários superiores que na forma de preços mais baixos, o que é uma questão puramente psicológica..»therefore, I am somewhat of the opinion that social friction would be less if you allow wages to rise slowly than if you insist on keeping wages steady and reducing prices[19]«.

A opção de Hawtrey em utilizar o `wholesale index` é paradoxal. Sendo este uma aproximação do índex do consumo, esse índice não contribui para a estabilização dos salários dos fac­tores de produção, porquanto eles se movem em direcções opostas. Assim, o índice de Hawtrey não dá uma aproximação das mudanças nos custos reais. Mas para Keynes a estabilização faz sentido mais no curto que no longo prazo, e no curto prazo ambos métodos podem ser a mesma coisa. O importante é que os partidários da estabilização actuem homogeneamente na escolha de um método. Para Keynes era prioritária a estabilização, i.e., politicamente mais relevante que a escolha do método, colocando-se na disposição de renunciar à escolha do método a fim de que a política da estabilização fosse adoptada.

Provavelmente, pelo grau de concordância acerca de necessi­dade de políticas de estabilização, Keynes envia a Hawtrey, a partir de Abril de 1930, partes fundamentais do `Treatise`, começando por discutir fundamentalmente com este o argumento de como uma mudança na taxa de juro bancária influencia mudanças na taxa de juro em geral, problema que Keynes discute no capítulo 37 do segundo volume, e posteriormente as ilustrações históricas que Keynes utiliza no capítulo 30.  Mas da correspondência publicada no vol. XIII das JMKCW, que se estende de Abril de 1930 a Junho de 1932, a discussão estende-se à obra no seu conjunto, com incidência sobre os conceitos de consumo e capital líquido, mas também sobre o processo inflacionário e os métodos de acção do sistema bancário.

An passant, Keynes relata a Hawtrey numa carta de 18 de Julho de 1930, as dificuldades que encontra em dissuadir Robertson e Pigou da diferença entre excesso de acumulação e excesso de poupança que o levou a reescrever o capítulo das equações fundamentais. Dessa correspondência resulta evidente que o próprio Keynes ainda não tinha clara uma definição sobre o con­ceito de gasto do consumidor(`consumer`s outlay`) utilizado por Hawtrey, o que provavelmente implica que este estava insatisfeito com a sua própria definição de consumo. Mas esta discussão com certeza não influenciou modificações na publicação do `Trea­tise` porquanto datam de Agosto de 1930, quando provavelmente o `Treatise` estava já na tipografia[20], mas levará Keynes a reconsid­erar a abordagem do problema, logo após a saída do livro, i.e., a reconsiderar como dado a determinação do volume do output.

Em 14 de Setembro de 1930 escreve à sua mãe » My dearest Mother, This evening, at last, I have finished my book. It has occupied me seven years off and on…Artistically it is failure- I have changed my mind too much during the course of it for it to be a proper unity. But I think it contains an abun­dance of ideas and material[21]«. Keynes deve ter enviado um exemplar a J. Schumpeter que responde desde Harvard » I do not think that any scientific book has been looked for with so universal an impatience-in our time at least-as yours is[22]«.

Concluindo, Keynes propôs-se demonstrar no `Treatise` que o nível dos preços do output dependem do nível dos rendimentos monetários relativamente à eficiência do volume do investimento (medido em custos de produção) relativa­mente à poupança e dos sentimentos `bearish` ou `bullnish` dos capitalistas relativamente à oferta de depósitos de poupança disponível no sistema bancário. Mesmo que estas dificuldades fossem superadas e o próprio Keynes dedica- desde a sua óptica, o capítulo 38 do segundo volume do seu `Treatise` à construção de propostas sobre a regulação internacional,  na linha que o tornaram o co-autor dos acordos de Bretton Wood-, eleprevê ainda uma dificuldade: é que este standard compromete o mundo a um tipo particular de standard de valor que domina a norma de longo prazo.

É que um standard de valor de longo prazo pode ser escolhido entre três tipos. O primeiro é o standard do poder de compra da moeda ou standard do consumo; o segundo é o standard do rendimento, cujo ratio relativamente ao standard consumo cresce em proporção a cada incremento na eficiência dos factores de produção; o terceiro é uma versão do padrão internacional, i.e., um standard baseado nos preços dos principais bens que entram no comércio internacional, ponderados por ordem de importância no comércio internacional, na prática não muito diferente do stand­ard a retalho das matérias primas.

Se o standard deve ser do mesmo tipo do dos outros países, é-se obrigado a escolher o terceiro tipo de standard, porquanto os outros tem um carácter nacional, i.e., eles movem-se de modo diferente em diferentes países, pelo que o standard internacional deste tipo pode não ser um standard ideal para cada pais individual.

  1. Da Teoria Monetária da Produção á Teoria Geral.

As duas conferências «Easter Term 1932″ de Keynes em Cambridge foram intituladas » The Pure Theory of Money», e contaram com a presença, para além dos seus alunos, de R.Kahn, P. Sraffa e J. Robinson, na qualidade de espias, como relata Keynes a sua esposa Lydia[23].

A primeira conferência lida, a 25 de Abril de 1932, é uma incursão em problemas terminológicos, conceitos económicos, dada a dificuldade que existe de passar de uma terminologia dominantemente de longo prazo para uma de curto prazo: » theoret­ical economics often has a formal appearance where the reality is not strictly formal. It is not, and is no mean to be, logically watertight in the sense in which mathematics. It is a generalisa­tion which lacks precise statement of the cases to which the generalisations applies[24]«.  Esta frase revela simplesmente o carácter introdutório desta conferência, a preparação da audiência para uma exposição crítica e aberta ao criticismo, sempre que este se exerça tomando em consideração que: «a definition can often be vague within fairly wide limits and capable of several interpretations differing slightly from one another, and still be perfectly serviceable and free from serious risk of leading either the author or the reader into error, provided that any of the alternative definitions will do so long as it is used con­sistently within a given context[25].

A segunda conferência, de 2 de Maio, discute alguns conceitos tomando como referência os usados no `Treatise`. Keynes esclarece: » The general upshot of this and the previous chapter seems to be that the fluctuations of output and employ­ment for a given community over the short period, within the ranges of fluctuations occur, depend almost entirely on the amount of current investment- not indeed with logical necessity but with a high degree of provability[26] in practice. This goes beyond the contention of my Treatise, where it was meant to depend on the amount of investment relatively to Saving-which has the advantage of logical necessity, apart from the results of tempo­rary miscalculation or of a policy which deliberately ignored considerations of profit»..»This less restricted generalisation is the result of taking account of the provable effect on saving of a change in the amount of investment[27]«. Keynes parece inverter o raciocínio do `Treatise` no sentido de que dado o existente nível de rendimento e a distribuição dos rendimentos para um determinado nível de output, não existe uma mudança espontânea na propensão  a poupar. As mudanças na situação geral são frequente­mente iniciadas a partir de mudanças no investimento. É o inves­timento o factor que gera a mudança de outros factores, embora.. » we cannot deduce from observing changes in investment the exact amount of changes in other factors, we can infer with a degree of provability approaching to certain the direction of these other changes[28]«. O grau de generalidade que Keynes pretende dar a sua teoria está associada ao seu método de aceitar as suas proposições com um grau de crença.

Em resultado desta conferência, Keynes[29] recebeu um manifesto de R.Kahn e J.Robinson, como resposta ao desafio de Keynes no sentido de encontrar objecções aos pressupostos que provam que quando se incrementa o investimento, o output também se incrementa. Como sublinham os autores do manifesto, » our difficulty however is not so much that we doubt your conclusion ( to which it would be difficult to object on ground of common sense) as the method of formal logic which you pursued appears to hedge it round with restrictions which detract unnecessary from generality without increasing its plausibility[30].

Nesta segunda conferência Keynes argumentava que D E`  e D O teriam o mesmo signo, condição a) no manifesto, e que DE`-D F e D E` tê  m o mesmo signo, condição b)  do manifesto, e desde que D  I = D E`-D F, as mudanças no nível do investimento(I), no ouput (O) e emprego estariam positivamente correlacionados, i.e., que D I e D O tem o mesmo signo[31].

A primeira objecção no manifesto é uma objecção à condição b), i.e., que D E`-D F e E` têm o mesmo signo. Se as despesas em consumo se incrementam mais rapidamente que o rendi­mento, então D E`- DF e DE` não tem o mesmo signo, ao que Keynes aponta que existe no manifesto uma confusão entre rendimento e receitas, i.e., nos custos primos (`prime cost`). Kahn e Robinson sublinham que de facto o problema na condição b) não é necessar­iamente demonstrar que I e O se movem juntos, mas de assegurar que existe um equilíbrio estável. Se a despesa em consumo se incrementasse mais rapidamente que o rendimento o equilíbrio seria instável e que cada pequeno incremento de I poderia causar um crescimento do output até o infinito ou até o ponto onde o incre­mento na despesa de consumo e o incremento do rendimento tem efectivamente o mesmo signo[32].

Na crítica à condição a)  Kahn e Robinson argumentam que a prova de Keynes entra em colapso se o incremento do output for acompanhado pela queda do seu valor, o que sendo improvável de acontecer, se acontecer, o incremento do output será acompan­hado de uma queda dos preços, o que aumenta o pressuposto de que I e O se movem juntos. Do ponto de vista formal a prova está correcta e desde que a proposição b) esteja preenchida, uma queda da proposição conduz ao fracasso da condição a). O problema é que as condições são suficientes mas não necessárias, i.e., que a ver­dade da proposição de que um incremento em I indicia um incremen­to em O precisa de ser provada necessariamente através do `simple minded method` porque o método formal apenas o prova suficiente­mente. Um incremento em I conduzirá de per se a um crescimento na procura de bens de consumo, i.e., que a procura de bens de consu­mo por parte dos produtores de bens de capital será incrementada quando o valor do seu output se incrementa; as condições da oferta de bens de consumo não são afectadas pela mudança de I.

Quando estas condições se cumprirem, um incremento de I conduzirá a um incremento na curva de procura de bens de consumo sem aumentar a curva de oferta, e portanto conduzirá a um incre­mento do output de bens de consumo e a fortiori a um incremento no output total. Se estas condições não se cumprirem é possível que o output se possa incrementar. Se a) não se cumpre não existe incremento em R ( produção de bens de consumo), mas existe um incremento em C( produção de bens de capital ou investimento), excepto quando D I resulta de D P`, e a menos que exista uma redução de R, o output é  incrementado. É apenas quando um incre­mento em I gerar um crescimento suficiente na curva de oferta dos bens de consumo que este output diminuirá, e que este crescimento será ainda maior se o declínio em R compensar o incremento de C. Um crescimento dos custos de produção é certamente acompanhado de um crescimento na procura de bens de consumo da parte dos fac­tores de produção que são responsáveis pelo crescimento dos custos, embora sublinhem os autores do manifesto:» It may be concluded therefore that it is extraordinary unlikely that an increase in investment should ever fail to increase output[33]«. Esta discussão que segue em cartas e notas[34] apenas serve como exemplo para três coisas: primeiro, que Keynes se encontra no caminho da elaboração da teoria da procura efectiva ainda com um substrato teórico similar ao `Treatise`; segundo, que na elaboração dessa teoria embora manifeste abertura ao criticismo exterior está convencido que o seu caminho está certo como o próprio escreve a Joan Robinson: » Finally there is the question which is the best of two alternative exegetical methods. Here I open to conviction. But to be convinced I should need to see the whole theory worked out your way, and then compare it with what I am able to say in my language. I am not so familiar with your way as with my own. But my present belief is that in general, and apart possibly of handling of certain special problems, your way would be much more difficult and cumbersome. At any rate I lack at present sufficient evidence to the contrary to induce me to scrap all my present half-forget weapons;-though that is no reason why you should not go on constructing your own”[35]. Terceiro, a proposição de que uma mudança no gasto causará uma mudança no output na mesma direcção era controversa e existiam pontos de vista contrários, de que um aumento do consumo causaria uma queda do output, como resulta das lembranças de J.Robinson sobre a exposição de Hayek do seu livro «Prices and Production» na Marshall Society em Cambridge: » I very much remember Hayek`s visit to Cambridge on his way to the London School. He expounded his theory and covered a blackboard with his triangles. The whole argument, as we could see later, consisted in confusing the current rate of investment with the total stock of capital goods, but we could not make it out at the time. The general tendency seemed to be to show that the slump was caused by consumption. R. F. Kahn, who was at that time involved in explaining that the multiplier guaranteed that saving equals investment, asked in a puzzled tone,`Is it your view that if I went out tomorrow and bought a new overcoat, that would increase unemployment?` `Yes`, said Hayek. `But pointing to his triangles on the board, `it would take a very long mathematical argument to explain why`[36]»

Keynes movia-se no sentido de estudar a relação entre os níveis de investimento e lucros, investigando as possibilidades de que um incremento do investimento cause o crescimento dos custos de produção na indústria de bens de consumo e de capital( principalmente na indústria de consumo); se o investimento e os lucros não se movessem no mesmo sentido, a estabilidade das relações entre investimento e quase-rentas seria colocada em dúvida, se aumentasse o investimento mas crescessem os custos de produção, a expansão seria colocada em questão. Como argumenta Rymes os autores do manifesto não perceberam a questão dinâmica de como um movi­mento no nível do output está associado com movimentos nos custos de produção » that is, shift in supply curves rather than move­ment along them[37]«.

A evolução do pensamento de Keynes espelha-se nos esquemas e diferentes `draft` sobreviventes correspondentes a esse esquemas. Um dos primeiros esquemas que sobrevivem neste período tem por título a teoria monetária da produção, que apre­senta uma divisão em quatro livros com uma introdução. O livro I trata da interrelação entre o investimento, a despesa, o lucro e o output, dividido em sete capítulos. O livro II dedica-se à taxa de juro, o livro III à determinação do preço, dividido em 4 capítulos; o livro IV refere-se ao controlo da taxa de despesa[38].

Num esquema similar que apresenta posteriormente aparece agora o livro segundo com o título «The Monetary Theory of Production», com os mesmo capítulos e conteúdos que o esquema anterior. No livro III sobre a determinação do preço aparece um capítulo dedicado à preferência pela liquidez, e o livro IV muda para o controlo da produção através da taxa de despesa, indiciando os capítulos uma dedicação aos assuntos de política económica. Embora em ambos os esquemas apareça um capítulo dedicado à relação entre o investimento e o comércio exterior, nenhuma alusão é feita ao conceito de procura efectiva. Numas notas escritas antes destes esquemas aparecem os temas Mercantil­ismo e Proteccionismo.

No primeiro dos esquemas de 1933[39], Keynes mantém o título dos esquemas de 1932, dedicando o primeiro capítulo do livro I, agora sem título, à natureza e significado da teoria de uma economia monetária, sendo o resto dos capítulos dedicados a definições, à poupança. O livro dois engloba a teoria da taxa de juro,  mantém o capítulo da preferência pela liquidez e agrega um capítulo sobre os factores que governam o investimento, com o que vislumbra a construção de um capítulo sobre o ciclo económico. O livro terceiro dedicaria Keynes ao emprego e aos salários, à influência da distribuição do rendimento, à influência das mudanças do investimento sobre o emprego e à teoria dos preços.

Num segundo esquema[40] o título do livro muda para «The General Theory of Employment»;  o capítulo primeiro muda para o significado e o contraste entre uma economia cooperativa e uma economia empresarial, agrega um segundo capítulo sobre as características da economia empresarial, adiciona um capítulo que denomina `Fundamental Equations` e outro sobre definições e ideias relaci­onadas com o capital[41].

No esquema de Dezembro de 1933[42] existe uma tábua de conteúdos completa. A teoria do Emprego é dividida em seis liv­ros. O livro 1 dedicado a relação entre a teoria geral da econo­mia com a teoria clássica, divide em 3 capítulos, sendo o capítulo 1  os postulados da teoria clássica, o capítulo dois as distinções entre uma economia cooperativa e uma empresarial e, o terceiro capítulo, as características da economia empresarial. O livro dois apresentaria os conceitos fundamentais da Teoria Geral, subdivididos em quatro capítulos independentes: quase-rendas, rendimento, despesa e poupança. O livro 3, o mais exten­so, é dedicado ao emprego como função dos motivos à despesa e ao investimento, englobando os motivos ao investimento e à despesa, a teoria do juro, a preferência pela liquidez como factor deter­minante da taxa de juro, a natureza do capital, as condições de estabilidade, a teoria geral do emprego, e duas excursões: uma sobre a taxa de juro em Marshall, e uma outra sobre a eficiência marginal do capital. No livro IV reaparece a teoria dos preços, com cinco capítulos: a função oferta; o multiplicador; salários reais e monetários; a equação dos preços e; poupança forçada, entesouramento e a velocidade da moeda. No livro V com o  título `Sundry Observation`, aparecem a taxa de juro em casos extremos, notas no ciclo do comércio e, notas na história de `cognate ideas`.

No esquema de meados de 1934[43] o livro de Keynes recebe o nome de » The General Theory of Employment, Interest and Money»[44]. O livro I aparece como na versão final da Teoria Geral, os postulados da economia clássica e o princípio da procura efectiva. No livro dois, definições e ideias, existe um capítulo sobre as expectativas e outro sobre as expectativas de longo prazo; os diferentes capítulos antecipam com diferentes nomes o conteúdo do livro  dois e três e parte do quatro da versão final, mas desaparece qualquer menção à eficiência marginal do capital, provavelmente diluída no capítulo sobre propensão a investir, expressão que como sabemos Keynes não utiliza na sua versão final. O livro III, a teoria da taxa de investimento, dedica-se à teoria da taxa de juro, à preferência pela liquidez, à taxa de juro em casos especiais e, a considerações filosóficas sobra as propriedades essenciais do capital, do juro e da moeda. O livro IV, contém os conteúdos do livro V da Teoria Geral, embora apareçam misturados conteúdos de livros anteriores, como por exemplo, o equilíbrio do consumo e o investimento, o multiplicador relaci­onando emprego e investimento, que são tratados posteriormente no capítulo 10 e no capítulo 18 da versão final. O último livro, apresenta-se dividido em quatro capítulos: notas no ciclo do comércio; notas sobre o mercantilismo, a balança de pagamentos e o investimento estrangeiro; uma economia individualista capaz de prover o pleno emprego, e notas na história de ideias similares. Resulta claro que estes dois capítulos foram refundidos no capítulo final da versão de 1936.

Em Junho de 1935[45], a `table of contents`, cobre mais ou menos exactamente o conteúdo da versão final. Da cópia enviada a R.Harrod, apenas faltam os 4 capítulos do livro VI, que ainda mantem a estrutura do anterior esquema. O livro I, submetido ainda a revisões, contém a estrutura final; o livro II, definições e ideias, apresenta a cobertura do conteúdo da Teoria Geral, com modificações na estrutura dos capítulos, passando de 12 na ante­rior versão para 9, onde alguns capítulos desaparecem, outros são desviados para outros livros, como o capítulo dedicado às expec­tativas de longo prazo, que aparece como capítulo 13, no livro IV; o livro III, é dedicado agora exclusivamente à propensão ao consumo, em dois capítulos e não três como na Teoria Geral, onde a relação propensão ao consumo com o multiplicador faz parte do capítulo 22 no livro V. O livro IV, a propensão ao investimento, e não o incentivo ao investimento como na Teoria Geral, integra exactamente oito capítulos, embora o capítulo `The General Theory of Employment` seja integrado no capítulo 20, enquadrado, porém, no livro V, com o nome `The Equilibrium of the Economic System`. O livro V, com capítulos que na versão final são deslocados para livros anteriores, como já referimos, é exactamente igual à versão final, embora apresentados numa ordem diferente. O capítulo das mudanças nos salários vem posteriormente ao capítulo sobre a função do emprego e não aparece qualquer apêndice sobre a teoria de desemprego de A.Pigou.

Pela correspondência com R. Harrod[46], sabemos que Keynes, esteve a re-escrever os primeiros 7 capítulos e o último livro no Verão de 1935. O mesmo podemos retirar da correspondência com J.Robinson. Numa carta de Setembro de 1935 Keynes es­creve..» I have been occupied for several weeks in somewhat re-writing Book I and completely re-writing Book II. I the case of Book II practically not a word of the version you have read has been left standing[47]«. Faltava ainda os últimos capítulos do livro VI, os que Keynes submeteu a Harrod, que objectou fortemente a tentativa de no capítulo 26 glorificar imbecis; obviamente Harrod referia-se aos mercantilistas. Este comentário contido na carta citada a J. Robinson, sugere que nesse período Keynes estava a ultimar a Teoria Geral, procedendo a mudanças no livro VI, o que de facto veio a acontecer, bastando comparar os últimos dois esquemas com a versão final, onde Keynes refunda os quatro capítulos originalmente previstos para os três da versão final.  Em Agosto de 1935 Keynes escreve a sua mãe.. » I began the last chapter of my book this morning[48]«. Em Dezembro desse ano escreve » I finished my book on Tuesday-it has taken five years[49]«; em Janeiro escreve » My book is out of my hand and will be published on Feb.4[50]«. O prefácio da Teoria Geral está, porém, datado de 13 de Dezembro, tendo-o acabado Keynes na terça feira dia 23 de Dezembro de 1935. A primeira carta registada que Keynes recebe sobre a Teoria Geral data de 15 de Abril de 1936, do seu colega de Cambridge G.F. Shove[51], e o primeiro artigo de seis páginas, » Mr Keynes on Employment and Output» aparece no volume 7(1) da The Manchester School[52]. Nos `draft` do capítulo 7, » The Monetary Theory of production», e o capítulo 8 » The Instability of Profit-Seeking Organisations of Production[53]«, Keynes discute o caso de um decréscimo do investimento associado com uma queda das quasi-rendas. É devido às condições dos custos, que chama de salários de eficiência, que surge o problema da instabilidade. No `draft` do capítulo 9 `The effects of Changes in the Rate of Earning`, Keynes partindo duma situação de declínio no investimento associa­do com uma queda dos salários monetários, lança a pergunta sobre se esse declínio trava o declínio nos lucros do output associado com uma redução do investimento, concluindo » on the balance of considerations, that there is no presumtion that all around reduction in variable cost of production will prove favourable to the volume of employment[54]«. Esta afirmação tinha Keynes produzido nas discussões sobre política económica, sem a conseguir demostrar teoricamente.

  1. A Teoria Geral

As conferências » Michaelmas Term» desenvolvem-se durante o período de Outubro a Novembro dos anos 1932 a 1935,  que são justamente os anos em que Keynes escreve a Teoria Geral. Nestas conferências, publicadas por T. Rymes na base dos aponta­mentos dos alunos de Keynes, Keynes utiliza as provas do prelo da sua obra[55]. Cada série de conferências está constituída por 7 a 8 lições, lidas com a distância de uma semana. Aliás Keynes utilizava a provas da Teoria Geral para dar as suas aulas. As `lectures` do ano 1935 intitulavam-se «The General Theory of Employment- The Theory of the Output as a Whole», embora nos esquemas a partir de 1934 apareça o nome » The General Theory of Employent, Interest and Money», que é o título defini­tivo da sua obra.

A primeira desta série de conferências intitula-se: » The Monetary Theory of Production», que indica uma mudança de atitude em Keynes. O objectivo destas lições é mostrar como as manipulações monetárias influenciam mais a produção que os preços. No início  destas lições Keynes diz que estava a escrever um novo livro sobre o funcionamento de uma economia monetária[56].

Estas lições permitem ver que Keynes se movia na direcção de um modelo teórico em que os câmbios no output depen­dem das mudanças nas relações entre despesa e rendimento, sendo despesa igual ao investimento mais os gastos em consumo ( os lucros são um resíduo). Até aqui não se vislumbra nenhuma relação com o multiplicador, sendo claro, porém, que os blocos que constituem o conjunto de teorias começam a ser delineados na forma de parâmetros, com grande relevo para a preferência pela liquidez e as expectativas sobre os lucros. A preferência pela liquidez distingue-se da `bearishness`, na medida em que esta última mistu­ra activos e dívidas contra moeda enquanto que a primeira concen­tra-se em dívidas contra dinheiro. O modelo contém uma determinação dos valores dos activos (lucros de curto prazo) através do fluxo das quase-rendas e da taxa de juro, com uma referência à determinação desta pela preferência pela liquidez. O volume de investimento aparece como uma função das expectativas sobre as quase-rendas prospectivas, da taxa de juro e do custo de produção dos bens de capital, todos os elementos que compõem a sua teoria da eficiência marginal, da qual nada se refere, assim como da procura efectiva, para além da referência a A. Smith na última lição. Neste sistema, conclui Keynes, não existe uma tendência de longo prazo para o pleno emprego, como supõe a teoria da economia neutral.

No período a seguir às lições de Outono em Cambridge, Keynes escreve o panfleto » The Means to Prosperity»[57], o conheci­do panegírico sobre a política de trabalhos públicos em que apresenta a sua versão do multiplicador aplicado ao emprego[58]. Este panfleto não discute apenas este problema, resume toda a política económica discutida nos anos prévios  contra o desempre­go (tarifas, subsídios, desvalorização, política bancária e taxa de juro) mas também as consequências das políticas de trabalhos públicos sobre os preços, a balança comercial à luz das objecções levantadas. A proposição inclui a organização de uma conferência internacional, porquanto o único modo de aumentar os preços mundiais será um `loand-expenditure` em todo o mundo[59].

Juntamente com este trabalho, Keynes publica o célebre ensaio sobre Malthus, nos `Essays in Biography`[60] em que sublinha o carácter relevante da teoria da procura efectiva[61], porquanto Malthus era um investigador que se interessava com a determinação do nível do output «day by day in the real world[62]«. Como não existem relativamente a 1933 manuscritos de Keynes que atestem as suas preocupações teóricas, estes dois textos constituem um bom indicador das preocupações de Keynes.

Uma recapitulação destas lições leva-nos a pensar que Keynes tinha em Dezembro de 1933, o corpo central da Teoria Geral, i.e., os `buildings blocks` : a crítica à teoria do empre­go e do juro clássicos, a teoria da procura efectiva, com as determinantes do consumo e o investimento, a teoria da preferência pela liquidez e a taxa de juro. Faltavam alguns ele­mentos de precisão, como a eficiência marginal do capital e a melhor integração desta na teoria do investimento, e a integração nas várias teorias do efeito das expectativas, mas faltava so­bretudo explicar a relação entre a eficiência marginal e a taxa de juro e porque esta última era recalcitrante à baixa. A teoria dos preços resulta das anteriores teorias. Mas, o marco histórico da caracterização sobre o que Keynes pensava ser a situação do capitalismo estava traçado: uma crise na abundância, por isso o seu optimismo relativamente ao seu futuro: » The evils of capi­talism could be gradually and effectively eliminated by the process of evaporation of the rate of interest. In pioneering times, capital is scarce and highly productive so that it will earn large rates. As capitalisation approaches completion, its productivity approaches to zero. The ownership of capital ceases to confer wealth and power and inequality of income, and the entrepreneur`s motive of business as a game of skill, already evident as notable one, would stand out as the governing one. The tendency for this to occur is offset by the presence of conven­tion as to interest and saving[63]«. Não existem dúvidas que Keynes estava produzindo uma outra teoria geral, começando por proble­mas terminológicos, outras explicações sobre os fenómenos e o reconhecimento sobre o carácter e importância das instituições e práticas sociais, i.e. procurando uma compreensão do funciona­mento da máquina, não para derrotá-la, mas servir os seus propósitos: a prosperidade.

Nas suas leituras durante as `Michaelmas Term` de 1934[64], Keynes basicamente esteve a ler os primeiros 14 capítulos das provas da primeira versão da Teoria Geral, pelo que seria redundante considerar os seus conteúdos. O estado da investigação é relatado por Keynes numa carta  de 18 de Setembro de 1934 a R.Kahn: «I`m working very hard and have found out one or two interesting novelties. In particular, I think I`ve solved the riddle of how to define income in some sort of a net sense-and it comes out very near to the money value of the Prof`s national dividend. The deduction from the gross sales proceeds of the  output  of a given equipment necessary to yield income is that part of the quasi-rent which is necessary to induce entrepreneur not to leave his equipment idle. This works just as well when the initial equipment is half-finished machine or a ton of copper. In other words the appropriate depreciation allowance is the sacrifice involved in used the equipment as compared with postponing its use, as estimated by the entrepre­neur itself[65]«. O conceito se sustém, excluído os bens perecíveis ou de muita curta duração. Mas,  como sabemos,  Keynes continuou a trabalhar nesse conceito[66].Nas ‘Michaelmas Term Lectures’  Keynes utiliza várias  versões das minutas da Teoria Geral,  mas provavelmente  utilizando as versões semelhantes à versão final da Teoria  Geral que apareceria apenas uns meses mais tarde[67]. As ‘lectures’ desse ano intitulavam‑se «The General Theory of Employment‑ The Theory of the Output as a Whole», embora nos esquemas a partir de 1934 apareça o nome » The General  Theory of Employent, Interest and Money[68].

 

 

Bibliografia

 

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Wood John Cunningham(ed.), » John Maynard Keynes: Critical Assessments», Croom Helm, London & Camberra, Vol. II, pp. 13-18.

[1]Esta dissertação foi publicada mais tarde com o nome » A study of Industrial Fluctuation» considerado por Keynes um prodigioso volume de trabalho, a mais brilhante contribuição sobre o sujei­to,  uma contribuição que sugere » at first sight a superb theory about fluctuations». Ver in CWJMK, vol. XIII, p.1, incluindo pé de página nº  2.

[2]Keynes escreve » Not only is this theory somewhat lacking in plausibility, but it cannot really be substantiated by fact», J.M. Keynes, CWJMK, vol. XIII, p, 2.

[3]J.M. Keynes, CWJMK, vol. XIII, p, 2.

[4]Keynes escreve a Sraffa: » You may be interested to hear that I have now made a good start on my new book, and find that I like my underlying theory quite as well when I begin to develop it as I did at the start», in  CWJMK, vol. XIII, p. 22.

[5]D. Robertson, » From D.H. Robertson, 27 February 1925, in  CWJMK, vol. XIII, p. 24.

[6]Pigou escreve a Keynes: » many thanks for these which I kept until my proofs came. Your point about working capital is of my lines. As I could`t discuss it properly at this stage, I`ve not said anything about it. As far as I can see, it is additive to, not in conflic with, my stuff. In  CWJMK, vol., XIII, p. 28.

[7]Citado in  CWJMK, vol. XIII, p. 29.

[8]Idem, p. 29.

[9]J.M. Keynes, «To D.H. Robertson», 28 May 1925, op, cit., p. 34.

[10]Esse estudo está publicado, juntamente com a correspondência no vol.ume XXIV das CWJMK.

[11]Na realidade e sobre o mesmo tema Keynes publicou dois artigos.  O artigo aqui citado juntamente com a correspondência é publicado na CWJMK, vol. XIII, pp. 52-77, tendo sido discutido com os economistas, funcionários do Tesouro e banqueiros D. Robert­son, R.Hawtrey, A. Joung, C. Bullock, W. Person, C Syder, J. Stam, R. Mckenna, W. Burgues, B. Strong, O. Niemeyer e R. Hop­kins.

[12]C. Snyder, Form C Snyder, 20 September 1928, publicada in  CWJMK, vol. XIII, p. 60.

[13]J.M. Keynes, » to C. Snyder, 2 October 1928, op. cit., p. 62. Nos mesmos termos é a correspondência com Charles Bullock, direc­tor na época do `Harvard Economic Society´.

[14]D. Moggridge, in op. cit. p. 117.

[15]Dessa correspondência conhecida estão publicadas as cartas de Robertson e Kahn, assim como as respostas de Keynes no volume XIII das CWJMK, pp. 118-126.

[16]Esse comité conhecido pelo nome do seu presidente Lord Macmil­lan, integrava políticos, banqueiros e professores com a finali­dade de investigar os factores internos e externos que determina­vam as operações dos bancos, finanças e crédito, a fim de retirar recomendações para promover os negócios, o comércio e o emprego de trabalho. O relatório foi publicado em Julho de 1931; a participação de Keynes está publicada no vol. XX, capítulo 2, pp. 38-311 nas  CWJMK.

[17]D. Moggridge, in CWJMK, vol. XX, p. 38.

[18]Idem, p. 128.

[19]Idem, p. 129.

[20]Na carta de Keynes para Hawtrey de 27 de Agosto 1930, Keynes escreve «The final version will shortly be available, and I naturally do not want misunderstanding to get about through uncorrected versions being in circulation. I have considerably re-written the fundamental chapter, and enclose the revised version herewith. I doubt if the changes meet your particular points. They were primary devised to what seemed to me misunder­standings on the part of Pigou and Robertson. But they do, I think, make my own point of view a great deal clearer than it was before. To R.H.Hawtrey, 27 August 1930,  CWJMK, vol. XIII, p. 138.

[21]J.M. Keynes, » To F.A. Keynes, 14 September 1930″, CWJMK, vol. XIII, p. 176.

[22]J. Schumpeter » From a letter from J. Schumpeter, 18 October 1930″, in op. cit., p. 176. No período,  Schumpeter estava a estudar também problemas monetários, cujos resultados foram publicados em 1970 pela sua esposa com o nome de «Das Wesen des Geldes».

[23]Ver J.M. Keynes , CWJMK , vol. XIX, p. 35-42, seguida do manifes­to de R. Kahn e J. Robinson sobre essa conferência, pp. 42-45.

[24]Idem, p. 37.

[25] Idem, p. 36.

[26]Não esquecer que quando Keynes fala de um alto grau de proba­bilidade refere-se ao grau de racionalidade a atribuir a um deter­minado fenómeno, do qual se deriva um grau de verdade. Keynes diz no `Treatise on Provality` que os termos certeza o probabilidade descrevem os vários graus da crença racional sobre as proposições que diferentes quantidades de conhecimentos  nos autorizam a divagar. A probabilidade não é capricho humano, referida sobretu­do a lógica. A teoria da probabilidade é lógica, porque diz respeito com o grau  de crença que é racional estimular em determinadas circunstâncias. Dado um corpo de conhecimentos directos que constituem nossas últimas premissas, a teoria nos diz que crenças racionais adicionais, certas ou prováveis, podem ser derivadas como argumentos válidos do nossos conhecimentos directos. Isto envolve relações lógicas puras entre as proposições que incorporam nosso directo conhecimento e as proposições sobre as quais procuramos conhecimento indirecto. Ver J.M. Keynes , CWJMK , vol. VIII, pp. 3-4.

[27] Idem, p.41.

[28]Idem.

[29]A notas que aparecem no vol. XIX das CWJMK  não devem ser iguais às aulas, onde provavelmente este introduz digressões e exemplos citados por  Kahn e Robinson que não se encontram nas referidas notas.

[30]Idem, p. 42. A correspondência que dá lugar ao manifesto está publicada no vol. XIII, p. 376-380, concluindo Keynes que «I had to revise my exposition to clear myself of just complaints of confused narration», p. 377.

[31]Os símbolos são os mesmos que no `Treatise´, F significa despe­sas não utilizada em consumo.

[32] Esta discussão sobre as condições de estabilidade faz parte da discussão sobre o multiplicador, na disputa sobre a extensão do emprego secundário associado com os trabalhos públicos e da confusão sobre a proveniência da poupança  necessária para o incremento nos trabalhos públicos e o modo de financiá-los. As condições de estabilidade  precisam as limitações das mudanças nas quasi rendas ou lucros sobre a extensão do emprego secundário e a fonte das poupanças. Ver T. Rymes, » Keynes`s Lectures 1932-35: Notes of a Representative Student», MacMillan, 1988, p. 35.

[33]Idem, p. 44.

[34]Como escreve D. Moggridge » Keynes talked with Kahn and with Kahn and Joan on 8. May 1932. The argument took all day, but Keynes told Lydia that he thought they had solved the problem amicably in the end. Ver J.M. Keynes , CWJMK , vol. XIX, p.  48.

[35]J.M. Keynes , » To Joan Robinson, 9 May 1932″, CWJMK , vol. XIII, p. 378.

[36] Joan Robinson, Contributions to Modern Economics, Oxford, Blackwel, 1978, pp.  2-3.

[37]T. Rymes,  » Keynes`s Lectures 1932-35: Notes of a Representa­tive Student», MacMillan, 1988, p. 41.

[38]Não existe nenhum documento ou fragmento que certifique a realização deste plano, apenas fragmentos de duas lições de Outubro desse ano, publicadas no vol. XIX, pp. 50-56, dedicados aos postulados de uma economia monetária em contrapartida com uma economia de troca real.

[39]Deste esquema sobrevive o capítulo 6 no livro I, «A summary of an Argument So Far», publicado no vol. XIX, pp. 63-66.

[40]Deste esquema mantêm-se fragmentos do primeiro capítulo, «The Nature and Significance of the Contrast between a Co-operative and the Entrepeneur Economy», do capítulo V, » Certain Fundamen­tal Equations» e do capítulo oito, » Definitions and Ideas relat­ing to Capital», publicados no vol XIX, pp. 63-75.

[41]Estes esquemas estão no vol. XIX das CWJMK, pp. 49-50 e 62-63, incluem fragmentos e notas sobre alguns ou partes de alguns capítulos dos esquemas de 1933. Sobre o primeiro esquema de 1932  existem fragmentos e notas sobre a teoria monetária da produção no vol. XIII, pp. 381 e seg., incluindo uma notas intituladas `The Parameters of a Monetary Economy´, que não se encontram nos esquemas.

[42]Ver J.M. Keynes , CWJMK , vol XIII, pp. 421-422; existem fragmen­tos dos capítulos dois » The Distinction between a Co-operative Economy and an Entrepreneur Economy», do capítulo 3, «The Charac­teristics of an Entrepreneur Economy», que é uma segunda versão daquele citado anteriormente, publicados no vol XIX, pp. 76-102. Provavelmente os fragmentos do capítulo 7, `Saving` e `Quasi-rent`and The Marginal Efficiency of Capital, que inclui uma nota sobre a teoria do capital de Bõhm-Bawerk do capítulo 4 e do Excursus II, no livro III  pertencem a este esquema. Publicados no vol. XIX, pp. 102-120.

[43]Deste esquema existem fragmentos do capítulo 6, » Effective Demand and Income», do capítulo 9, «The Functions relating to Employment, Consumption and Investment», do capítulo  10, » The propensity to spend», do capítulo 11, » The Propensity to In­vest», publicados no vol. XIII, pp. 424-456. Deste período existe um manuscrito completo que Keynes apresentou ao `American Politi­cal Economic Club´, em 5 Junho de 1934, com o título `The Theory of Effective Demand», um novo manuscrito do capítulo 9, » The Functions relating to Employment, Consumption and Investment», um manuscrito sobre o capítulo 8, «Investment and Saving, e os indícios de um prefácio da Teoria Geral. Publicados no mesmo volume, pp. 469-483.

[44]Keynes escreve uma elucidativa carta a R. Kahn, que ilumina a história das mudanças dos esquemas » I have been making extensive changes in the early chapters of my books, to a considerable extent consequential on a simple and obvious, but beautiful and important(I think) precise definition of what is meant by effec­tive demand:-

Let W be the marginal prime cost of production when output is O. Let P be the expected selling price of this output.

Then OP is the effective demand.

The fundamental assumption of the classical theory, `supply creates its own demand`, is that OW = OP whatever the level of O, so that the effective demand is incapable of setting a limit of employment which consequently depends on the relation between marginal product in wage-good industries and marginal disutility of employment. On my own theory OWÅ OP for all values of O, and entrepreneurs have to choose a value of O for which it is equal;-otherwise the equality of price and marginal prime cost is in­fringed. This is the real starting point of every thing», » From a letter to R.F. Kahn, 13 April 1934, in  J.M. Keynes , CWJMK , vol. XIII, pp. 422-423.

[45]Numa carta a Harrod, Keynes escreve: » I am sending you at last galley proofs of almost the whole of my book. From the table of contents which I am enclosing, you will see that you have here the whole thing with the exception of the three concluding chap­ters».. «The different sections are in different states of revi­sion, and you will find various internal inconsistencies which will have to put right. Broadly speaking, the first six chapters and the last six are in a later stage of revision than the in­termediate ones», J.M. Keynes ,» To R.F. Harrod, 5 June 1935,  CWJMK , vol. XIII, pp. 526-527.

[46]A correspondência com Harrod está publicada no vol. XIII, das CWJMK, pp. 525-564, estendendo-se por um período de Junho a Outubro de 1935.

[47]Ver J.M. Keynes , » To J. Robinson, 3 September 1935″, CWJMK, vol. XIII, p. 650.

[48]J.M. Keynes , » Fromm a letter to Florence Keynes, 9 August 1935″, CWJMK , vol XIII, p. 653.

[49] J.M. Keynes , » From a letter to Florence Keynes, 26 December 1935″, CWJMK , vol XIII, p. 653.

[50]J.M. Keynes , » From a letter to Florence Keynes, 19 January 1936″, CWJMK , vol XIII, p. 653.

[51] Publicada no J.M. Keynes , CWJMK , vol. XIV, p. 1.

[52] Publicado in John Cunningham Wood (ed.), » John Maynard Keynes: Critical Assessments», Croom Helm, London & Camberra, Vol. II, pp. 13-18.

[53]Ver J.M. Keynes , CWJMK , vol. XIII, pp. 381-389.

[54] J.M. Keynes , CWJMK , vol. XIII, p. 394.

[55][55]Farei referência sempre que isso se verifique de acordo as notas de D. Moggridge nos volumes XIII e XIX das CWJMK .

[56]Os fragmentos dos manuscritos que aparecem no vol. XIX, pp. 50-57, correspondem em parte ao material exposto nestas oito lições.

[57]Ver J.M. Keynes , CWJMK , vol. IX, pp. 335-364 ( a edição nos `Essay in Persuasion` corresponde à edição americana que para além de quatro artigos que apareceram  no `The Times`, inclui um artigo sobre o multiplicador). Keynes estabelece que o problema da pobreza era um problema de natureza económica no sentido de que deveria unir » a blend of economic theory with the art of statesmanship, a problem of political economy», p. 336.

[58]Como Keynes escreve: » Our problem it is to ascertain the total employment, primary and secondary together, created by a given amount of additional loan-expenditure, i.e, to ascertain the multiplier relating the total employment to the primary employ­ment, idem, p. 341.

[59]Esta proposta de Keynes representa uma actualização da sua pro­posta contida no `Treatise`, que inclui a criação de um centro de emissão internacional. Interessante é que Keynes pretendia que fosse discutida a abolição de tarifas e quotas, que se eliminas­sem os entraves ao comércio, que se dê-se reanimação aos mercados financeiros, ou que por vezes é interpretado como um recuo rela­tivamente as propostas anteriores, i.e., em 1929-1930.

[60]Ver J.M. Keynes , CWJMK , vol. X, pp. 71-108.

[61]Tanto como se sabe Keynes reescreveu este ensaio a partir de um texto de 1922, em que corrigiu e adiciono uma parte nova que começa com uma frase muito reveladora do seu espírita em 1933 » Economics is a very dangerous science», idem, p. 91.

[62]Idem, p. 97. Aliás Keynes compara Ricardo com Malthus, colo­cando Malthus como um investigador que se interessa pela economia monetária na qual vivemos, contrariamente a Ricardo que se preo­cupa com a teoria da distribuição em condições de equilíbrio, com a abstracção de uma economia monetária neutral. Certamente que Keynes é Malthus e Ricardo a teoria ortodoxa, numa extrapolação histórica um tanto ou quanto exagerada. Keynes escreve » He points out(Malthus) that the trouble was due to the diversion of re­sources previously devoted to war, to the accumulation of saving; that in such circumstances deficiency of saving could not possi­bly be the cause, and saving, though a private virtue, had ceased to be a public duty; and that public works and expenditure by landlords and persons of property was the appropriate remedy», Idem, p 101.

[63]Idem, pp. 127-128. Correspondem as notas de Fallgater.

[64]Repare-se que Keynes tinha pronto um esquema com o título » The General Theory of Employment» em Dezembro de 1933, na base do qual desenvolveu os capítulos que fazem parte das suas lições no outono de 1934.

[65]J.M. Keynes , CWJMK , vol. XIII, pp. 484-485. O conteúdo das cartas está citado nas notas de D. Moggridge nessa página.

[66]Idem, p. 485. As referências a esta discussão terminológica estão contidas na lição de 12 de Novembro de 1934, ver » Michael­mas Term 1934″, in T. Rymes,  » Keynes`s Lectures 1932-35: Notes of a Representative Student», MacMillan, 1988, pp. 141-145.

[67]As lições se realizaram como sólito no trimestre de Outuno.  A Teoria de Keynes estive pronta em finais de Dezembro, sujeita du­rante esses meses as últimas revisões. Existe uma comparação  dos   diferentes  esboços  das diferentes versões de 1934  e  1935  que   evidenciam  as  principais corecções introducidas  nos  capítulos   sobre  definições  e  terminologia. Nessas  minutas  não  aparece   nenhuma  versão dos capítulos que constituem o livro VI,  o  qual   estava, como sabemos da carta a Joan Robinson anteriormente cita­da, as ser re‑escrito. Ver Keynes J.M., JMKCW, vol. XIV, Appendix,   pp. 351‑512.

[68]Para Keynes dado um corpo de conhecimentos directos que constituem as nossas últimas premissas, a teoria nos diz que crenças racio­nais adicionais, certas ou prováveis, podem ser derivadas como argumentos válidos dos nossos conhecimentos directos. Isto envolve relações lógicas puras entre as proposições que incorporam nosso directo conhecimento e as proposições sobre as quais procuramos conhecimento indirecto. As proposições particulares que seleccio­namos como as premissas dos nossos argumentos dependem  dos factores subjectivos particulares e peculiares a nós próprios, mas as relações, sobre as quais outras proposições estão sobre estas, e que intitulamos de relações prováveis são objectivas e lógicas. Consideremos que as nossas premissas consistem num conjunto de proposições h, e a conclusão consiste num conjunto de proposições a, então, se o conhecimento de h justifica uma crença em a num grau, podemos dizer que existe uma probabilidade-relação de grau alfa entre  a e h. (  escreve-se a/h=).

Isto é, notamos e cremos que existe uma relação objectiva entre a teoria, na apresentação entre as evidências e as conclusões, que são independentes  do simples facto da nossa crença, e que é justa e objectiva.

Mas adiante assegura-se que o grau mais alto de crença racional, «which is termed in certain rational belief», corresponde ao con­hecimento,…o conhecimento de uma proposição sempre corresponde a certeza da crença racional e ao mesmo tempo à actual verdade na proposição, ela própria. O conhecimento das proposições parece ser obtido de dois modos: como o resultado da contemplação dos objec­tos do conhecimento pessoal e indirectamente, ´by argument`, através da percepção da relação de probabilidade, acerca das quais procuramos o conhecimento e das outras proposições.

Pela contemplação de uma proposição da qual temos conhecimen­to directo, somos capazes de passar indirectamente de ou a outras proposições. O processo mental através do qual nós passamos de um conhecimento directo a um conhecimento indirecto é em alguns casos e em alguns graus, capaz de produzir análise. Passamos da proposição a ao conhecimento acerca da proposição pela percepção lógica entre elas. Com a relação lógica temos um conhecimento pessoal. A lógica do conhecimento é principalmente ocupada com o estudo das relações lógicas da proposição secundária fortemente declarada da relação de probabilidade, e do conhecimento indirec­to acerca, e em alguns casos, da proposição primária. Keynes  distingue entre conhecimento directo e indirecto, entre a parte de nossa crença racional na qual baseamos no conhecimento directo e aquela parte  baseada no argumento. Temos conhecimentos directos e verdades, não temos conhecimentos indirectos. De modo a termos uma crença racional numa proposição p de um grau de certeza, é necessário que uma das condições seja cumprida i) que o nosso conhecimento de p seja directo, ou ii) que conheçamos um conjunto de proposições h, e também algumas proposições q  que consintam uma relação de certeza entre p e h. No último caso h deveria  incluir-se sejam as proposições  secundárias ou primárias, mas é necessário que todas as proposições q sejam conhecidas. «In order that we may have rational belief in p of a lower degree of provability than certainty, it is necessary that we know some secondary proposition h, and also know some second­ary propositions q asserting a provability-relation between p and h».

Alguma parte do nosso conhecimento, conhecimento de nossa própria existência ou das nossas sensações, é claramente uma experiência individual. Não podemos falar do conhecimento de uma única pes­soa. Outras partes do conhecimento-conhecimento dos axiomas da lógica, por ex. podem ser mais objectivos, mas devemos admitir que é também relativo à constituição da mente humana que pode variar de homem para homem. `What is self-evident to me´  e o que realmente sei, pode ser uma crença provável para ti,  «or may form no part of your rational beliefs at all. And this may be true only of such think as my existence», mas também alguns axiomas lógicos. » Some men ..may have a greater power of logical intuition than others». Mais, a diferença entre algumas classes de proposições sobre a qual a intuição humana parece ter poder, e alguma sobre a qual não tem, pode depender totalmente da constituição das nossas mentes e não tem significado para a lógica objectiva. Não podemos assumir que todas as proposições secundárias verdadeiras são ou podem ser mais universalmente conhecidas que todas as proposições primárias as quais são conhecidas.» The perceptions of some relations of provability may be outside the powers of some or all of us», CWJMK VIII, capítulos I, II e III.

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Gómez Olivares Mario. (2001, abril 1). Uma breve história da publicação da teoria geral de J.M. Keynes. Recuperado de https://www.gestiopolis.com/uma-breve-historia-da-publicacao-da-teoria-geral-de-j-m-keynes/
Gómez Olivares Mario. "Uma breve história da publicação da teoria geral de J.M. Keynes". gestiopolis. 1 abril 2001. Web. <https://www.gestiopolis.com/uma-breve-historia-da-publicacao-da-teoria-geral-de-j-m-keynes/>.
Gómez Olivares Mario. "Uma breve história da publicação da teoria geral de J.M. Keynes". gestiopolis. abril 1, 2001. Consultado el . https://www.gestiopolis.com/uma-breve-historia-da-publicacao-da-teoria-geral-de-j-m-keynes/.
Gómez Olivares Mario. Uma breve história da publicação da teoria geral de J.M. Keynes [en línea]. <https://www.gestiopolis.com/uma-breve-historia-da-publicacao-da-teoria-geral-de-j-m-keynes/> [Citado el ].
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